sábado, 10 de novembro de 2007

PÁG6 - GENE


Diogo afirmava cada vez mais no seu intimo que aquele curioso, só podia ser um tarado sarcástico que estava para ali a zombar da sua paciência e a procurar o ponto máximo da sua tensão. E ele que não suportava tais pessoas de bom grado.
- “Deixe-me prosseguir, não esteja para ai a interrogar-me com o olhar. Muito bem, o assassino da sua mulher foi você mesmo.”
Diogo devia por tal homem na rua a pontapés ou então fazer um telefonema para a esquadra mais próxima ou mesmo para um sanatório, porque tal homem apenas podia ter dado de frosques de tal lugar. Mas por mais que o atingisse o cume do absurdo, o seu sistema nervoso tinha ficado curioso quanto a esta versão estapafúrdia da história.
- “Vejo que o senhor até encarou bem o facto, como já prevíamos. O crime sucedeu-se porque o fizemos ingerir a tal droga secreta. E se me deixar passar a expressão, matámos dois coelhos com uma cajadada só. Em primeiro matámos a sua mulher da maneira mais improvável, através de um ataque de rua, tendo como álibi gente da justiça que o tirou rapidamente da cena do crime, colocando-o rapidamente no seu posto de trabalho, nos hotéis Minerva, onde já labutava há duas semanas. Em segundo, acabou por ser cobaia da nossa experiência.
A exaltação de Diogo surgiu por fim juntamente com um optimismo fictício. Começou a dar volta à sua mobília muito interessado no certo encaixe que aquele homem tinha dado à história. Até já lhe oferecia um cafezinho e mais que fosse. Um sorriso cínico fazia o professor quase dar por terminada a sua missão.
- “Diga-me, você ainda não acredita, pois não? Mas se quiser pode ir fazer uma análise ao sangue e eles lhe darão como resultado uma substância estranha. Por ultimo, tenho o que é opcional: ou você aceita a nossa proposta ou irá de “cana” 20 anos. Nada nem ninguém o poderá ilibar. Tem como segunda hipótese cumprir-nos uma missão que lhe será transmitida posteriormente. Se escolher esta, pode contactar-nos todas as nove horas, no prazo de uma semana, através dum outro agente, junto à sepultura do seu pai.” – Olhou simplesmente pela janela e para o relógio que se evidenciava claramente no pulso. – “Creio que é mais que tempo para me retirar da sua presença.”
Diogo estava de costas voltadas muito conformado e seguro de si. Dava para ouvir um leve sibilo que pronunciava “boa noite”. Diogo ouviu tal som mas desta vez ainda não foi coisa com pés nem cabeça, ou melhor, ele acabou por ouvir que era escusado apresentar-se ao emprego no dia seguinte.
Eram já 23 horas. Num ponto aquele louco teve sorte, a chuva tinha parado de cair e desta parecia definitivamente.
“Sorte para aquele louco mas melhor tenho eu, porque a cama já me chama.” – Uma ideia fixa apoderava-se do seu cérebro. – “Amostra de sangue…amostra de sangue…, só posso ter sido contagiado por aquele maníaco.”
Ia pelo passeio e a hora para se apresentar ao trabalho ainda estava distante. Por isso não precisava de ter pressa e o trabalho distava dali apenas uns escassos terezentos metros. A sua atenção virou-se para uma criança cega mesmo ao virar da esquina do edifício onde trabalhava.
Era um menino, quase um rapazote, teria entre 12 e 15 anos. Tinha o rosto composto, mas com falta de limpeza. O cabelo parecia estar tratado, mas não tinha visto o pente nessa manhã. Estava descalço e com pouco mais que uma camisola, contendo mais buracos que um crivo e dezenas de fios desfiados. As calças estavam em melhor estado, mas a zona dos joelhos encontrava-se já muito puída. Os pés, descalços naquele húmido passeio, não se encontravam calejados, pelo contrário, mostravam uma pele branca e muito fina. O que saltou mais à atenção de Diogo foi o vislumbre de uns quantos dentinhos mais brancos que o puro branco! E os seus olhos pareciam-no observar.
-“Em breve o senhor andará cheio de sumo de cenoura e autodisciplina!”
Notou que era outra criatura vítima do mundo louco. De tal modo o compadeceu que lá largou uma larga esmola.
Mal Diogo pôs um pé dentro da porta do hotel onde trabalhava, deu conta que mesmo no centro do átrio estava “hábito de intemperança”, ou melhor, o patrão dos hotéis. Foi rápido e mortífero.
Pediu-me para que não requeresse explicações. Despedia-me. Acrescentou ainda: - “Você sabe precisamente porque o estou a despedir e não vale a pena solicitar qualquer tribunal, qualquer sindicato. Ninguém o ouvirá!”
Como mal o tinham deixado entrar nas instalações, bastou um passo à retaguarda para obedecer prontamente.
Que interessa ao leitor qual o resultado das análises de Diogo, o encontro no cemitério e a missão que lhe foi confiada, quem era o miúdo ou quem era o dono da repelente cicatriz!
O mais importante, o imperativo é que ela (esta história) não pode existir. Sejamos realistas como Diogo: se esta história tivesse continuação seria um busílis, ou seja, havia grande dificuldade em acreditar nesta sandice em jeito de grande ficção científica. Por agora vejam-na inverosímil e transeunte.
Por Eumesma

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