terça-feira, 23 de março de 2010

OPOSTOS II

A Internet é um meio muito forte de atracção, que facilmente pode absorver a nossa atenção, o que a faz tomar conta do nosso tempo, e fazer da nossa vida seu objecto. Porém, a realidade da vida, pode também ser capaz de roubar esse protagonismo e nos devolver ao mundo rotineiro. Na balança dos meus dias, esse viver dia a dia, sem canalizar os meus pensamentos para este cantinho do ciberespaço tem mantido o seu peso. Desse modo, tenho andado ausente. Confesso que há momentos do meu dia em que me ocorrem frases agradáveis, que gostaria de as partilhar, mas como preguiço para as anotar, rapidamente as perco no fluir do tempo, em que o minuto presente se assemelha ao minuto seguinte. Penso. Porque não a anotei? Porque não a transcrevi para aqui? Mas é preocupação, ansiedade, que não me inquieta por muito tempo. Eu sei que quando não tenho “raiva” suficiente para escrever, significa que estou bem. Se tenho de escolher entre dizer a mim mesma se quero escrever ou estar bem, prefiro não transcrever nem uma palavra que seja. Então porque escrevo hoje? Por que me sinto mais em baixo, não penso que seja isso. Espero que seja algo do género: A excepção não faz a regra! Hoje quis dizer algo, pelo meu ânimo, creio e vejo já, que não ficará aqui nada de inspirado, mas sou eu a dar um olá tímido. A vida é a sístole e a diástole de um coração, picos a cima e picos a baixo, em que o mais importante de tudo é manter essa palpitação e afastar-nos da linha contínua e achatada.
Vim até aqui, principalmente não para acrescentar nada de novo, mas porque já algum tempo devia ter esclarecido um pouco mais sobre aquilo que postei antes.
Quando coloquei a frase “opostos atraem-se” parece que provoquei uma pequena guerra de palavras e azedumes de sexos. A minha intenção não era falar de traições, nem de triângulos ou quadrados emocionais ou sexuais, como queiram pintar isso, mas de algo bem mais inocente, como amar alguém que tem uma personalidade oposta à nossa sem ter de haver cornos pelo meio. Eu sei que apesar de estar a viver um período emocionalmente estável na minha vida, não me esqueci do que são as relações e de que outros tipos de relações se desenvolvem à minha volta. Por vezes parece haver tantas formas de relacionamento, como pessoas no mundo. Não há histórias iguais, por muito tentador que seja fazer uma generalização. E por isso mesmo, tudo e todos devem ser ouvidos, julgados e compreendidos caso a caso. Porém, apesar de utilizar de um justiça imparcial, não deixo de concordar um pouco com alguns dos comentários, em que se pode resumir que as pessoas estão a ficar mais individualistas e já só se preocupam de alimentar as suas emoções, a sua própria carne, atingir o pico individual do seu prazer e desligam-se para o que as outras pessoas possam sentir. A infidelidade, e a facilidade com que as pessoas movem-se de coração para coração, de corpo para corpo é cada vez mais frequente. Estamos a banalizar cada vez mais os sentimentos, são peões e deixaram de ser pessoas. É algo triste e muito pobre, isto, para o qual caminha a nossa sociedade. Cada qual deve tentar não embarcar neste vórtice de superficialísmo porque se hoje sou eu a fazer a jogada, amanhã posso sofrer o xeque-mate.
Ai está a visão negra, ou se não é completamente ausente de luz, é pelo menos um grande borrão cinzento e alguém muito especial, questiona-me sempre porque não escrevo eu sobre coisas felizes, coisas com luz e objectos positivos. É por esse alguém, que vou passar a tentar explicar a ideia do meu post anterior.
“Opostos atraem-se” – pensei que seria uma tarefa mais simples, mas é complicado explicar todo este conceito, que no fundo se devia resumir a que duas pessoas diferentes se podem complementar. As suas naturezas muito diferentes são o encaixe natural. O que aparentemente podiam ser elementos de repulsa isolados são a combinação de uma chave de códigos que unem ambos os seres. A volubilidade pode ser misturada com a solidez. A rigidez racional com a magia da imaginação. A profundidade da paciência com a energia da impaciência. O afecto inflamado com a entrega morna mas absoluta. As palavras sussurradas com os gritos inflamados. A delicadeza dos afectos com a impetuosidade da entrega…O oposto deixa de soar a confronto e passa a ser o espelho que complementa a nossa imagem.