quinta-feira, 24 de setembro de 2009

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

PRINCIPE SAPO - VERSÃO CITAÇÃO

Estava eu alguns dias depois de editar o meu último post, a ler um livro de citações, que o próprio autor me ofereceu, quando me deparo com uma que se ajusta na perfeição com o meu desenho e palavras do post anterior, e que é a seguinte:

"Amar não é se envolver com a pessoa perfeita, aquela dos nossos sonhos. Não existem príncipes nem princesas. Encare a outra pessoa de forma sincera e real, exaltando suas qualidades, mas sabendo também de seus defeitos. O amor só é lindo, quando encontramos alguém que nos transforme no melhor que podemos ser."

(Mário Quintana)

terça-feira, 25 de agosto de 2009

segunda-feira, 27 de julho de 2009

"HORMONAS E RELAÇÕES"

Extracto da revista Superinteressante nº 136, pág 51.

No documento Amor, sexo e casais, surgem em determinados pontos, vários paragrafos que achei muito interessantes, como esta revista muitas vezes consegue ser. Não transcreverei, nem citarei ao promenor, porque talvez até estivesse a incorrer no crime de plágio, mas tentarei apenas mostrar a mais alguns, duas ou três coisas que se deve ter conhecimento.
Em deterinado ponto dizem que "segundo Francesco Alberoni, catedrático de sociologia da Universidade de Milão (Itália)" o sentimento amoroso pode ser dividido em duas fases "o enamoramento e a etapa do amor-companheiro, na qual os envolvidos deixam de se contemplar mutuamente e começam a olhar juntos para o futuro." transformando isto em "linguagem hormonal" dizem eles que se passa "com êxito a fase da testosterona (atracção fisíca) e da dopamina (amor cego e prazer) e chegasse à oxitocina, a hormona que contribui para prolongar os vínculos afectivos e nos permite confiar no outro."

De isto,



Molécula de dopamina

Para isto



Molécula de oxitocina

Pela complexidade quimica já dá para perceber porque o tipo de relação que surge em segundo lugar é bem mais complicado de criar e manter do que o primeiro :)lol. Tirem as vossas elacções!

segunda-feira, 22 de junho de 2009

segunda-feira, 11 de maio de 2009

quinta-feira, 16 de abril de 2009

CATA -VENTO



Muda de Vida


Humanos


Composição: António Variações

Muda de vida se tu não viveres satisfeito
Muda de vida, estás sempre a tempo de mudar
Muda de vida, não deves viver contrafeito
Muda de vida, se à vida em ti a latejar

Ver-te sorrir eu nunca te vi
E a cantar, eu nunca te ouvi
Será de ti ou pensas que tens... que ser assim

Muda de vida se tu não viveres satisfeito
Muda de vida, estás sempre a tempo de mudar
Muda de vida, não deves viver contrafeito
Muda de vida, se à vida em ti a latejar

Ver-te sorrir eu nunca te vi
E a cantar, eu nunca te ouvi
Será de ti ou pensas que tens... que ser assim

Olha que a vida não, não é nem deve ser
Como um castigo que tu terás que viver

Olha que a vida não, não é nem deve ser
Como um castigo que tu terás que viver

Muda de vida se tu não viveres satisfeito
Muda de vida, estás sempre a tempo de mudar
Muda de vida, não deves viver contrafeito
Muda de vida, se à vida em ti a latejar

Muda de vida se tu não viveres satisfeito
Muda de vida, estás sempre a tempo de mudar
Muda de vida, não deves viver contrafeito
Muda de vida, se à vida em ti a latejar

quarta-feira, 15 de abril de 2009

AMIGOS

O meu coração está dividido em mil pedacinhos mais valiosos que todo o ouro e pedras preciosas da Terra, mais úteis que o ar que respiro, mais fundamentais que o alimento que me sustenta. Os pedacinhos do meu coração são os meus amigos. Basta uma palavra verdadeira saída do fundo desse pedacinho e deixo de estar só e triste porque um puzzle se constrói dentro do meu peito. Cada um com a sua forma enriquecem a caixa que os guarda no seu interior. Sou quem sou porque quem se vai cruzando na minha vida me modela, fortifica e inspira. quando muitos não se conseguem expressar por palavras, usam os seus braços para me apoiar e mimar. Sou obrigada a ser feliz, porque nem uma lágrima me deixam derramar. Talvez muitos não saibam, (porque os tento não preocupar comigo - fazer-me de dura), mas o maior dos meus medos é a solidão. Medo esse sobre a forma de uma noite fria e escura. Ao fim de algum tempo de afastamento e a tiritar de receios, acabo por ver pequenas luzes que se encaminham para mim. Os meus amigos estão a chegar, sem medo de se perderem nessa noite em meu redor. Obrigada por estarem vigilantes. obrigada por considerarem a minha condição de estar bem, fundamental para também vocês se sentirem bem. Sabem que os elogios não saem fácil da minha boca. Não quero que estas palavras sejam tomadas como agradecimento. Elas são muito pouco do que eu devo a cada um de vós. Um abraço, um beijo, um lugar importante no meu coração.

Amigos, tenho vocês presentes em mim todos os dias da minha vida.

AO MEU PAI

A vida é para perdermos nela muitas coisas porque muitas delas não tem ressurreição possível. Pai onde quer que estejas olha por mim e proteje-me. Estavas longe, numa vida dura que te destruia o corpo, numa vida solitária que te destruía o espírito. Quantas provações e deambulares. Para a sociedade ficaram metros cúbicos de cimento e uma mala de papeis. Para mim, carne da tua carne partiste com metade de mim, enquanto, a outra metade ficou num equilíbrio periclitante. Antes estavas duas vezes no ano comigo, agora mesmo não mais te vendo, estás todos os dias nos meus pensamentos e nas minhas orações. Olha por mim e guarda-me. Faz com que a tua filha siga forte, respeitada e elogiada como tanto te orgulhavas e repetias esses pequenos elogios. Pai sinto a tua falta, mas consola-me a imagem do beijo que te pedi quando te vi pela última vez. Se eu soubesse tinha te dito muito mais. Adoro-te Pai, fica conosco. Mas mais uma vez partiste, triste, só e para longe de nós. Como me revolta um justo como tu até na morte ser condenado a não teres quem era mais precioso para ti em teu redor. Quando penso em como morreste, sentado anónimo na beira de um passeio (não sei se sentiste dor ou não), é o culminar de todos os medos. Porque partiste assim? Mais alguns dias e tinhas regressado para nós. Pai queria parar as minhas lágrimas e guardarte respeitosamente e com todo o carinho nos meus pensamentos. Porém só tudo passará quando estiver junto de Ti. Até lá vou cuidar e proteger a mãe e o irmão como pareceu que me recomendavas naquele dia da despedida. E todos os outros que Deus me for confiando ao longo da Vida.

Saudades da tua filha.

terça-feira, 14 de abril de 2009

quarta-feira, 8 de abril de 2009

PROPAGAÇÃO VEGETATIVA SENTIMENTAL


Quem mesmo não conhece a minha biografia, percebe após uma pequena observação, sobre estas minhas páginas, que estou de algum modo ligada à terra. É bem verdade que muitas das vezes reconheço nas plantas, mais caracteristicas humanas do que nos animais. Uma das coisas que aprendi, foi que as plantas não ficaram miseravelmente dependentes de uma única forma de se propagarem. Fracções de espécies vegetais reproduzem-se sexualmente, tal e qual, como os humanos (salvo seja). Um parceiro e uma parceira, gâmetas e mais um arsenal de órgãos, e não faltam mesmo os terceiros bonzinhos das relações, aqueles amigos que dão o empurrãozinho polinizador. Mas esta fusão de seres é demasiado bela para o que eu quero de facto falar. Quero colocar de lado o estratagema da flor e a compensação do fruto. Quero falar de outros tipos de propagação vegetativa.

Quero falar das plantas que se multiplicam por enxertia. Esta união é feita recorrendo a duas peças. O porta-enxertos e obviamente o seu respectivo enxerto. O porta-enxertos é o elemento base, aquele que vai suportar as durezas da relação. Vai procurar no solo alimento, mesmo que ele escaceie e dá-o ao seu enxerto. Vai ser ele que vai aguentar a sede e a doença. A sua faceta tosca mas robusta vai se unir à delicadeza do belo, do desejado enxerto. Este vai crescer vigoroso e perfumado e dar muitos frutos. Vai captar luz e produzir oxigénio, resplandecer para poder ser o orgulho do seu portador.

Quero falar também das plantas que se multiplicam por estaca. Mesmo quando parece que estão condenadas a morrer. Definhando e secando quando apartadas da planta-mãe a estaca enterra-se no solo e tenta se manter viva. Aguarda e o tempo foi seu amigo. Proveu a terra de humidade e a terra começou a alimentar a órfã. De seu caule nu começa a abrolhar a esperança. Pequenas raízes vão ganhando confiança e aquela porção que vivia amarrada a algo maior e que não precisava de viver por si, nem se compreender, ganha agora vida, ganha agora individualidade. Passa a ser o princípio de futuros pedaços que se vão também desprender para colonizar novas visões e lugares no mundo.

Quero falar na multiplicação por mergolhia. Aqui existe um ser que já é consciente de si, mas insatisfeito da sua dimensão estica os seus braços, alonga-se para procurar mais respostas. Os seus braços ficam pesados e cansados, deixando-se cair sobre a terra. Esta acolhe-os no seu seio. Envolve-os e faz brotar neles novas respostas, novos seres que vão acumulando saber até ao dia em que vão descobrir que o lugar onde estão plantados não é o suficiente e terão de dar mais um passo, originar mais uma descendência. Hoje vejo-vos (Humanos) como videiras, limoeiros, salgueiros, morangueiros.

terça-feira, 24 de março de 2009

VELOCIDADE CERTA


Hoje comentei que as pessoas tem certas velocidades para a forma como circulam os seus sentimentos dentro de si. Disse eu: Há pessoas em que os seus sentimentos andam a 10km/h outras a 100km/h. Mal acabei de proferir esta frase, veio-me a à cabeça a imagem que reproduzi. "A lebre e a tartaruga" e quando a vi em meus pensamentos e depois no meu desenho, apercebi-me que nem sempre quem usa de uma velocidade mais elevada nos seus sentimentos é o primeiro a chegar à meta do que pretende. Algo que dá para reflectir uns segundos, se possível uns minutos seria o ideal. Eu fiquei...

terça-feira, 17 de março de 2009

"Fred Astaire" dos James


"Fred Astaire" dos James

Doctor what is happening to me?
Palpitations, my mind is diseased
Even my vision is impaired
I'm losing my hair
Cause when I hold her in my arms I feel like Fred Astaire

Lovesick, my temperature's high
Just met a girl, who believes we can fly
I'm a bull, not a bear
I'm a millionaire
Cause when I hold her in my arms, I feel like Fred Astaire

I believe in happiness
I believe in love
I believe she fell to earth from somewhere high above
I believe in Hollywood
Don't believe that love must bring despair
Cause when I hold her in my arms, I feel like Fred Astaire

Who said love is just a disease
A plague for the naive
These days no one believes

Meteors may strike the earth
Nations live and die
I'm the boy who got the girl
And now we're gonna fly
We can cross the race divide
Bridge a gap that wasn't really there
Cause when I hold her in my arms, I feel like Fred Astaire

I'm gonna hold her in my arms, just like Fred Astaire
I'm gonna hold her in this charm, like Fred Astaire
Like Fred Astaire
Like Fred Astaire
Like Fred Astaire

Video :http://www.youtube.com/watch?v=_j1SnnrgXrI

segunda-feira, 16 de março de 2009

QUANDO!


Persisti e esclareci o que para mim pareceram milhões de dúvidas. Mas como ser humano que sou e mulher que não posso deixar de ser, continuo nas minhas congeminações, na minha formulação de teorias, no meu mundo imaginário de conspirações. Quando a minha cabeça entra em divagações, quando o meu espirito tenta alcançar as respostas que estão para além de qualquer deus, os meus pensamentos entram no turbilhão descendente que me amarra e vergasta contantemente sobre o chão. Minha cabeça começa a ganhar peso e enojo-me por dentro. Fico triste e os meus dentes e olhos cerram-se. Que dor sem doer. Fico agitada, sinto picadas invisiveis por todo o corpo. A dúvida das dúvidas me consome. Obtive já resposta ao Que sou para Ti! ao Quanto sou para Ti! Agora falta Quando me dizes que Me queres?
Dias e sóis passam, vento que volteia, chuva que tarda a chegar. Poeira que sobe e que desce, raio de luar que queima. Assim o tempo passa, e quando o dirás!?
A tua resposta surge:
- Também por mim o tempo passa, e a resposta ao que me pedes, será a resposta do tempo sobre o meu corpo e a minha mente. Quando o meu cerebro arder com a febre de meus pensamento por ti, é porque te quero. Quando os meus pulmões não poderem aspirar outro perfumem que não seja o do teu corpo é porque só de ti necessito, como ar para viver. Quando sentir minhas mãos algemadas e incapazes de se abrirem, é sinal que não precisarei de fazer mais nada que não seja te agarrar, te estreitecer ao longo do meu corpo, encadeada pelos meus dedos. Quando deixar de ter fome, sede ou frio, é porque te quis bem e tu cuidas-te de mim. Quando as minhas pernas tremerem e não for capaz de dar um único passo, saberás que és minha, porque deixei de ir mais longe, passou a bastar estar junto de ti. Meu corpo falará por mim. Deixarei de ter sentidos. Nada em mim fará sentido porque te vou dizer que te quero.Quando todo esse tempo passar e o meu corpo e mente te falar no silêncio dos meus gestos, não te impacientarás jamais porque terás entrega escrita sobre a pele.

quinta-feira, 12 de março de 2009

BALOIÇO


Uma vez mais a minha personalidade carente e prostrada de dúvidas sentimentais entrou em acção. Desta vez, num belo jardim primaveril, cheio de novos rebentos e um tapete de pétalas de camélias e magnólias cobrindo o chão. Enlaçei as minhas mãos, nas mãos do meu amante e perguntei-lhe:
- Quanto me amas?
Ele impeliu-me para diante, caminhamos silenciosamente, até que me indicou um banco, onde ambos nos sentamos lado a lado, ficando a observar todos os elementos daquele jardim em redor. Ao fim de algum tempo, disse-me:
- Em que medida queres o meu amor? Metros ou kilos?
Fiquei realmente incómoda e assustada, mas ele tinha um fundo de razão. Pois ele podia me amar 100 metros, 100 quilómetros ou para complicar mais, 100 milhas, ou então, 100 kilos ou 100 toneladaS. Todos esse valores podiam ser pouco ou ser muito mas eram de facto quantificáveis. Portanto, de que me interessava essa quantidade, se o amor agora já não parecia ter uma unidade de medida.
Ele percebendo o meu incomodo, mas ao mesmo tempo também a minha tristeza, ainda mais profunda, por eu própria me ter perdido, na pergunta que eu própria tinha feito. Compadeceu-se de mim. Desenlaçou a sua mão da minha (que eu não tinha percebido que ainda estava ali unida à minha) e apontou em frente para um dos baloiços.
- Vês ali aquele baloiço?
Acenei com a cabeça que sim. E ele continuou.
- Aquele baloiço é como o nosso amor. É como tratamos para que seja o nosso amor. Ambos temos pesos diferentes, e ele parecerá muitas vezes desequilibrado, mas quando isso acontecer, podemos procurar corrigir esse desequilíbrio. Cada um de nós pode pegar nesse momento num pedaço do nosso coração e coloca-lo na outra ponta. Junto do outro. E ai, o baloiço estará novamente equilibrado. Se mesmo assim, o equilíbrio, o problema de distribuição de peso causa dificuldades. Digo-te apenas.
PREVALECEMOS
NÃO NOS RENDEREMOS
CONTINUEMOS A PROCURAR A SOLUÇÃO.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

VERSUS II - "A CIDADE E AS SERRAS"



Há algumas semanas escrevi um texto de minha autoria, em que divagava pobremente, com factos resultantes da minha visualização de dois mundos. O mundo rural e o mundo citadino. Curiosamente, alguns dias depois de colocar aqui esse texto, começei a ler a obra "A Cidade e as Serras", de um dos nossos maiores escritores portugueses, (se bem que eu prefira Júlio Dinis) - Eça de Queirós. Aquele que à maioria de nós deixa traumatizado ao ler "Os Maias", a mim não me custou muito, mas que o Sr. tem obras que gostei muito mais de ler, isso tem. Preferi e tive mais prazer em ler "O crime do padre Amaro" (muito melhor do que qualquer filme) ou ainda "O Primo Basílio). Mas sem querer estar aqui a divagar sobre a obra querosiana, o que quero dizer, é que ao ler, "A Cidade e as Serras", encontrei uma passagem fantástica, que demonstra na perfeição a minha igual opinião a Zé Fernandes, o personagem que divaga ao longo do seguinte excerto:

“Certamente, meu Príncipe, uma ilusão! E a mais amarga, porque o Homem pensa ter na Cidade a base de toda a sua grandeza e só nela tem a fonte de toda a sua miséria. Vê Jacinto! Na Cidade perdeu ele a força e beleza harmoniosa do corpo, e se tornou esse ser ressequido e escanifrado ou obeso e afogado em unto, de ossos moles como trapos, de nervos trémulos como arames, com cangalhas, com chinós, com dentaduras de chumbo, sem sangue, sem febra, sem viço, torto, corcunda – esse ser em que Deus, espantado, mal pode reconhecer o seu esbelto e rijo e nobre Adão! Na Cidade findou a sua liberdade moral: cada manhã ela lhe impõe uma necessidade, e cada necessidade o arremessa para um dependência: pobre e subalterno, a sua vida é um constante solicitar, adular, vergar, rastejar, aturar; rico e superior como um Jacinto, a Sociedade logo o enreda em tradições, preceitos, etiquetas, cerimónias, praxes, ritos, serviços mais disciplinares que os de um cárcere ou de um quartel…A sua tranquilidade (bem tão alto que Deus com ela recompensa os santos) onde está, meu Jacinto? Sumida para sempre, nessa batalha desesperada pelo pão, ou pela fama, ou pelo poder, ou pelo gozo, ou pela fugidia rodela de ouro! Alegria como a haverá na Cidade para esses milhões de seres que tumultuam na arquejante ocupação de desejar – e que, nunca fartando o desejo, incessantemente padecem de desilusão, desesperança ou derrota? Os sentimentos mais genuinamente humanos logo na Cidade se desumanizam! Vê, meu Jacinto! São como luzes que o áspero vento do viver social não deixa arder com serenidade e limpidez; e aqui abala e faz tremer; e além brutamente apaga; e adiante obriga a flamejar com desnaturada violência. As amizades nunca passam de alianças que o interesse, na hora inquieta da defesa ou na hora sôfrega do assalto, ata apressadamente com um cordel apressado, e que estalam ao menor embate da rivalidade ou do orgulho. E o Amor, na Cidade, meu gentil Jacinto? Considera esses vastos armazéns com espelhos, onde a nobre carne de Eva se vende, tarifada ao arrátel, como a de vaca! Contempla esse velho Deus do Himeneu, que circula trazendo em vez do ondeante facho da Paixão a apertada carteira do Dote! Espreita essa turba que foge dos largos caminhos assoalhados em que os Faunos amam as Ninfas na boa lei natural, e busca tristemente os recantos lôbregos de Sodoma ou de Lesbos!...Mas o que a Cidade mais detiora no Homem é a inteligência, porque ou lhe arregimenta dentro da banalidade ou lha empurra para a extravagância. Nesta densa e pairante camada de Ideias e Fórmulas que constitui a atmosfera mental das Cidades, o homem que a respira, nela envolto, só pensa todos os pensamentos já pensados, só exprime todas as expressões já exprimidas – ou então, para se destacar na pardacenta e chata rotina e trepar ao frágil andaime da gloríola, inventa num gemente esforço, inchando o crânio, uma novidade disforme, que espante e que detenha a multidão como um mostrengo numa feira. Todos, intelectualmente, são carneiros, trilhando o mesmo trilho, balando ao mesmo balido, com o focinho pendido para a poeira onde pisam, em fila, as pegadas pisadas; - e alguns são macacos, saltando no topo de mastros vistosos, com esgares e cabriolas. Assim, meu Jacinto, na Cidade, nesta criação tão antinatural onde o solo é de pau e feltro e alcatrão, e o carvão tapa o céu, e a gente vive acamada nos prédios como o paninho nas lojas, e a claridade vem pelos canos, e as mentiras se murmuram através de arames – o homem aparece como uma criatura anti-humana, sem beleza, sem força, sem liberdade, sem riso, sem sentimento, e trazendo em si um espírito que é passivo como um escravo ou imprudente como um histrião…E aqui tem belo Jacinto o que é a bela Cidade!”

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

ANIME - MIYAZAKI

De que venho eu falar desta vez – cinema – mas algumas películas em particular. Tratam-se de alguns filmes produzidos por Miyazaki (não vou dizer quem é, devia ser sobejamente conhecido, pena que isso nem sempre aconteça, também é fácil saber algo mais sobre ele, basta wikipédia e está tudo lá). Como dá já para espreitar por algumas das imagens que anexei, tratam-se de filmes de animação – a que apelidam o seu género com o termo anime. Pessoalmente no meu coração e na minha cabeça, Hollywood pode fazer todas as películas que entender durante mais um século até que talvez consiga demover-me da cabeça, que estes filmes que apresento de seguida são para mim os melhores de todos os que já vi até hoje. É certo que o género não agrada a todos. Talvez muitos digam que são filmes de crianças, que tem imaginação a mais. Sinto pena dessas pessoas. Isso significa que têm uma percepção do mundo muito pobre. Sinto pena por essas pessoas porque não aprenderam o que está oculto nas pequenas coisas e que é com essas pequenas coisas que se escala sempre para algo maior.

Podia pegar nas sinopses dos filmes e chapa-las aqui, mas isso em primeiro lugar não estaria correcto. Depois porque quem faz isso é como quem não vê, ou seja, quem critica através da crítica dos outros, é pior crítico. Por estes e outros motivos decidi tentar descobrir as imagens e cenas que me marcaram mais de cada um dos filmes que a seguir apresento. Como é difícil eu escolher qual gosto mais. Decidi-me por algo mais fácil e mais justo. Apresento-os de forma cronológica.

- MEU VIZINHO TOTORO – 1988

Nesta cena, as duas meninas (se repararem Miyazaki utiliza quase sempre muitas personagens principais femininas e na semi-puberdade, mas ao mesmo com uma personalidade tão rica, que vai inclusive amadurecendo ao longo da história, que a visualização desses sentimentos e acções é em si enriquecedora, para cada um de nós. É essa a característica que eu mais gosto neste autor. Personagens densas de um bem e de um mal que se mistura numa humanidade crua e real). Estava eu a dizer que nesta cena, as duas meninas aguardam a chegada do pai do trabalho e da visita à sua esposa e mãe das meninas que se encontra internada no hospital. Aguardam numa paragem de autocarros, na zona rural para onde foram morar recentemente, para entregar um guarda-chuva ao pai e para que assim este não se molhasse. Porém, surge Totoro (aquele ser redondinho ao lado delas - não me perguntem o que é ele, cada um tem de ver o filme e interpretar à sua maneira quem poderá ser ele). As meninas emprestam-lhe o guarda-chuva do pai, e ele fica fascinado com o facto de deixar de apanhar com as gotas de chuva e o som que elas produzem ao cair no guarda-chuva. Ele repara nesse som já quase quando pára de chover, por isso para prolongar um pouco mais o som, ele decide dar um grande salto no ar e a água que estava presa na folhagem cai toda numa chuveirada só...é uma cena amorosa e cómica ao mesmo tempo. Merece ser vista.

- SERVIÇO DE ENTREGAS DA KIKI – 1989

Como o titulo indica, uma menina chamada kiki, tem de viver um ano fora de casa para aprender a ser uma verdadeira bruxa – é tipo um estágio de bruxas. Durante a sua jornada acontecem-lhe sempre uma série de peripécias que a fazem duvidar seriamente se conseguirá vir a ser uma grande bruxa, por não consegueir encontrar algo nessa condição em que seja realmente boa. Descobre que a única coisa que consegue fazer é voar na sua vassoura – fora o facto de falar com o seu gato preto – até que começa a deixar de ter confiança em si e até mesmo estes poderes, perde. Ela vai ter de olhar bem para o seu interior e descobrir o que a faz ser quem é, algo muito mais importante que ser uma grande bruxa.

- PORCO ROSSO – 1992

É uma história clássica de guerra e amor – mas que na realidade acaba por ser pouco convencional pela sua mistura de elementos. Tais como, logo em primeiro lugar, o personagem principal é um homem enfeitiçado, transformado num porco. Depois existe uma espécie de máfia de piratas do ar, que vão sequestrando vários navios no mar mediterrâneo, num dos quais raptam por exemplo, uma cambada de miudinhas com os seus cinco aninhos, que ajudam á confusão e destruição do hidroplano dos mafiosos, quando porco rosso as vem salvar.

- PRINCESA MONONOKE – 1997

Um filme muito actual apesar de ter mais de uma década. Mesmo que repleto de magia (e isso ainda me faz gostar mais dele) retrata uma história muito moderna – visto que a ecologia e a importância de salvar o planeta da sujidade exterior e interior humana (poluição e guerras) estão presentes desde o inicio ao fim do filme. As duas personagens principais, são a princesa Mononoke, criada por lobos e defensora acérrima da floresta, de tal forma que ás vezes se esquece que também ela é humana. Depois existe o rapaz, que mesmo tendo sido contaminado por algo que lhe vai percorrendo o corpo e o vai levando para a morte, não se cansa de tentar conciliar a Natureza com os humanos. Quem surge a seguir em termos de personagem humana é uma mulher muito em particular. É uma espécie de capataz-guerreira, que constrói um forte, que deseja intransponível, onde são feitas armas por leprosos e mulheres (que foram exploradas pelos homens) e que são agora recolhidos e libertados dessas outras formas de escravidão. Quando se vê o filme, esta mulher – quase um general – que pega em qualquer arma, é mais uma das personagens ambíguas de Miyazaki. Tanto tem exemplos de extrema humanidade, como está disposta a destruir tudo em seu redor para obter muitas coisas reprováveis.

- A VIAGEM DE CHIHIRO – 2001

Todos os pequenos monstrinhos mimados que vamos vendo todos os dias por ai, deviam ser obrigados a ver este filme. A viagem de Chihiro é mais do que uma história, é uma forma de educar crianças. Não quero dizer, que as crianças devam passar pelas privações/lições que esta menina foi obrigada a suportar, mas tentar moldar-lhe o pequeno cérebro para que entendam o que Chihiro foi descobrindo como valioso.

- O CASTELO ANDANTE – 2004

História comovente e com um final não muito claro, mas que em nada reduz a beleza do filme. Ao longo da história, vamos aprendendo sobre o significado da juventude versus velhice, boa aparência versus mau aspecto, força versus fragilidade e ainda como a força de acreditar no próximo é uma força muito poderosa, capaz de quebrar múltiplos feitiços. A paciência, a amabilidade e a coragem, fizeram de uma simples rapariga, sophie, que é transformada numa velhota, numa personagem mais forte que qualquer Rambo. É simplesmente fantástico como ela com perseverança consegue atingir lentamente os seus objectivos, mesmo que sejam tarefas tão simples como limpar uma lareira, subir umas escadas ou terminar uma guerra que ameaça destruir todo um mundo que ela foi conhecendo.

- PONYO ON THE CLIFF (ainda não há titulo official em português para este filme porque ainda não saiu no cinema) – 2008

Quando visualizei este filme, pensei, prontos, lá vão vir os críticos dizer que isto é uma adaptação oriental da pequena sereia. Na verdade deve ser mesmo, mas não interessa, Miyazaki consegue sempre colocar a sua marca própria em cada filme que faz. A pequena sereia - Ponyo, é daquelas personagens amorosas deste autor, que só por si, fazem um filme valer a pena.

A medida que ia escrevendo ia sendo cada vez mais difícil colocar por palavras, aquilo que só em imagens consegue ser transmitido. Tentei dar o meu melhor. Espero que tenha aguçado a curiosidade de alguns. Gostava ainda de acrescentar mais alguns filmes que estão também de mais alguma forma relacionados com este autor, e muito mais se podia dizer sobre eles:

- SUSSURRO DO CORAÇÃO

- O TÚMULO DOS PIRILAMPOS

- O REINO DOS GATOS

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

VERSUS

*Por Eumesma - A tela ainda está inacabada, mas gostava que algo ilustrasse já o meu texto.

Ao iniciar esta divagação, colocou-se uma primeira indecisão. Que titulo lhe havia de dar? Cidade v/s campo? Urbanidade v/s ruralidade? Metrópole v/s aldeia? As mesmas palavras ou sinónimos ligeiramente diferentes? Não consegui escolher aquele que melhor se adequava ao que queria escrever. Portanto, ficou uma simples abreviação de “versus”, como titulo. No fundo, foi assim que me senti, com um pé em cada um dos mundos. Um versus. Sou suspeita pela falta de imparcialidade, mas também nunca o quis ser. Não tenho que defender ambos os mundos de igual forma. Quero simplesmente descrever o que vi, e ainda o que considero mais importante, o que senti. A cama era pequena, o quarto acanhado, mas afinal, era a cama de uma residencial no interior da capital. Aqui no meu quarto sempre estive habituada a uma cama grande (que até este momento me parecia pequena). Mas o que mais estranhei não foi bem a dimensão. A custo me habituei ao colchão, às roupas da cama. Não quero dizer que fossem desconfortáveis, mas eram daquele género que provoca insónias. O sono não é um só. É como que repartido. A culpa não era porém, só deste poiso nocturno alugado. Por muito bem que até estejam isoladas as paredes das estruturas nas cidades, há sempre um constante murmúrio de fundo, como se o mar estivesse a fustigar a costa ali a alguns metros. Constantemente, ou como se existisse um zumbido permanente dentro dos ouvidos. Um pouco mais de atenção e no ar da noite, conseguia-se divisar em que direcções rumam os carros durante a noite nas ruas. Menos atenção é precisa para ouvir de forma inequívoca a sirene da ambulância que passa a grande velocidade. Custa-me a adormecer. É cansativo permanecer acordada. Os meus ouvidos estão habituados a outros ruídos. Ruídos que por mais agudos e/ou tempestuosos que sejam, são sempre ruídos puros. Sons do campo. Vento e grilos, sapos e corujas, galos e pardais. Fora a natureza e os bichos, não existe na noite do campo nada artificialmente produzido por humanos. O cansaço de muitas horas na cidade acaba por me quebrar as pernas. Esse peso trepa-me pelo corpo e acaba por atingir a minha cabeça. Há uma obrigação inconsciente para o dever adormecer. Tenho de cerrar os olhos para retemperar forças, encher meia bateria para um novo dia. No campo, mesmo que essa bateria esteja esgotada, quase no fim das suas capacidades, há sempre um fio de terra, que é como que uma tomada de energia, que recarrega todo o ser, mesmo em pleno esforço. A cidade cansa-me num sentido só. Uma nova manhã. A cidade já acordou à muito, acorda como que sozinha. No campo sou eu que acordo nele. Na cidade a cortina está fechada, somos vigiados de todos os lados, a luz ou a chuva da manhã são ofensivas. No campo todos os elementos nos dão o bom dia que precisamos sentir para fortalecer o ânimo. Avanço para o banho. A água é aparentemente transparente, mas de algum modo parece estar saturada de gordura, como se já tivesse lavado vinte corpos antes do meu. Tenho saudades da minha água do campo. Que nasce a metros no solo da montanha, a quilómetros da minha torneira, sem qualquer fonte de poluição pelo meio. Todo um monte de granito para lhe filtrar as impurezas. Sinto falta da água dos campos e dos alimentos por eles produzidos. Do que grande parte vi crescer para depois consumir. O alimento que sei a que mãos foi tratado. Aqui na cidade o alimento parece me enfraquecer. Engorda-me, incha-me o ventre, pesa-me no sangue, mas no fundo é insípido, sem verdadeira energia. Um alimento que alimenta mas não sacia por inteiro. Meto-me pelas ruas, pelos transportes públicos. Todos sabem que lado tomar da rua naquela determinada hora. É como se fossem idênticos a um carreiro de formigas, um bando de mortos vivos cinzentos. Sim, foi essa a cor que me disseram que essa gente da cidade tinha. Observei-os mais de perto e tinham razão. São cinzentos em todos os aspectos. Cinzentos na cor da sua pele, cinzentos na sua fisionomia, cinzentos nas suas expressões, cinzentos até quem sabe nos seus pensamentos. Sinto-me excluída, nunca poderei pertencer à cidade. Ganhei lodo desde que nasci as cores do campo. Um simples tom rosado nas minhas faces denuncia a minha origem. Um sorriso despreocupado pela manhã na rua e é observado como um escândalo para essa gente cinzenta. Mas nem tudo é desânimo. Não sei se essa gente é capaz de observar os pormenores que eu observo. Uma vez mais matei saudades do chiar do Metro. Tanta gente vai adormecida por esse som. Que sabe já o odeia, mas eu adoro-o. Aquela violência de fricção metálica fascina-me. Gosto de andar de Metro. De resto é Janeiro, as árvores dispersas pela cidade ainda estavam adormecidas, não as conheci no seu esplendor. Condição que deve ser novamente ignorada por todos os que circulam nas ruas. Feche os olhos, sabe dizer se as árvores por onde passa todos os dias têm folhas? Certamente nunca desperdiçam muito tempo a responder a uma pergunta como esta. Eu respondo, das que observei, ainda estão todas despidas, com algumas excepções. Algures umas palmeiras exóticas e nas proximidades uma mediana, mas bem tratada magnólia grandiflora (quanto a esta daqui a umas duas semanas deve ter já grandes flores brancas). Deixei-as com saudade e elas saudades de mim, por que certamente há muito que ninguém as tratava por tu. Voltei para as minhas árvores em floresta. Estive seis dias na cidade e tive de descansar de seguida três no campo para recuperar a pessoa que era. Pergunto-me como conseguem viver essas pessoas que moram na cidade. Como vivem verdadeiramente? Será que vivem ou passam pela vida vivendo? Porque tudo à volta deles não tem vida, são já protótipos de caixões, de procissões funerárias.


NO CAMPO DEIXASSE DE VIVER, NA CIDADE MORRESSE FINALMENTE.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

FRASE

Hoje ao folhear um dos meus cadernos de rascunhos, li uma frase que apontei. Ao ver as aspas nela, significa certamente que a retirei de algum lado. Não sei de quem se trata, não coloquei o nome do autor dessa citação. Talvez até tivesse sido eu própria. Não sei dizer. O que é certo, é que a reli algumas vezes e deu-me vontade de a colocar aqui.

"NUNCA DEVEMOS FICAR PRESOS AO QUE FOI PLANEADO, SEM FLEXIBILIDADE PARA RECONHECER O PRESENTE"

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

UM NADA QUE É TUDO



Novamente os dois entre lençóis, naquela cama.
Ganhei coragem e perguntei:
- O que sou eu para ti?!
E sem grandes silêncios, ouvi o som da sua voz proferir.
- Para mim não és nada.
Se não estivesse numa posição horizontal, aquele murro, aquele espancamento da frase teria me derrubado. Naquela noite não aqueci mais nada para além do espaço na cama, debaixo de mim, debaixo do meu corpo.
Não, não me podia conformar. No dia seguinte encontrei um dicionário, que esfolhei e procurei várias palavras:
Nada: ausência de quantidade; ausência de ser ou de realidade; o que não existe; bagatela; coisa nenhuma; não; de modo nenhum.
Zero: algarismo que não designa por si só nenhum valor; coisa ou pessoa sem nenhum valor.
Nulidade: qualidade do que é nulo; falta de validade; falta de mérito; de talento; pessoa insignificante.
Nulificar: tornar nulo; anular.
Nulo: sem efeito ou valor; ineficaz; vão; nenhum.
Nega: negação; recusa; falta de vocação; falha; recusa a dar lição; fracasso.
Se o Nada tem assim tantas definições, tantos sinónimos, tantos nomes, tantos significados. Talvez o seu Nada, não seja, a sua própria definição, mas uma espécie de antimatéria do próprio Nada. E o Nada percorreu durante todo aquele dia os meus pensamentos. Novamente era um Nada, que não provocava soluções, porque agia nos meus pensamentos, sem um corpo, sem um fio de sentido. Girou, rodopiou dentro da minha cabeça. Como um cientista que descobre na prática o que ainda não conseguiu teorizar, assim eu sentia, que aquele Nada estava lá vivo, no interior da minha cabeça. Um Nada que se materializava em algo, mesmo que não me levasse a lado nenhum. Eu tinha faculdades mentais para profundas análises, mas nem sempre o fazia. Por vezes preferia a comodidade de não pensar. Aquele debruçar sobre o Nada, intenso e conflituoso no meu cérebro preguiçoso.
Se o cérebro não chega a conclusão alguma é por vezes o corpo envolvido na experiência que descobre o caminho.
Uma nova noite, e um novo encontro com quem me apelida de um Nada. Novamente, ciente das minhas capacidades argumentativas, tais como tinha estado das minhas capacidades de pensamento. Mas tal, como tinha feito antes, voltava a ficar novamente preguiçosa de qualquer acto. Por isso, se eu era um Nada, também não precisava de dizer nada, de fazer nada, de esperar nada. Voltava a estar na mesma posição junto a ele, exactamente como tinha estado no momento da minha pergunta, no dia anterior. Hoje não queria perguntar nada, não esperava mais respostas. Continuava a cultivar aquele Nada, que me começava a atrair para uma estranha comodidade, apesar de contrariar por completo toda a minha natureza. Foi então, como se no meio daquele universo gelado e obscuro, se formasse um buraco negro. Exactamente como esse Nada galáctico, uma força gravítica poderosa, sobre a forma de dois braços ligeiramente musculados, avançava para me abraçar. Aqueles braços, que eu tão bem conhecia, teriam provocado um ligeiro sorriso no meu rosto, mas não o fiz, para não me denunciar. Aquele abraço quente proporcionou-me a resposta. Um Nada tão absoluto, tão redundante, era apenas um subterfúgio para um Muito que se ocultava. Omitido a medo. Se o Nada podia ser zero, ser nulo e nulidade, ser a nega, o Nada era Muito e eu não me importava mesmo que Nada fosse, desde que mantivesse aquele abraço apertado em meu redor.