domingo, 7 de outubro de 2007

PALAVRAS E SILÊNCIOS...


Não enceto com nenhuma citação porque a minha resposta já se prevê frágil, arrastada, sempre á espera duma manhã diferente. Pelo menos irradias novidade e força. Tomas a tua vida como três dias e duas noites, se não o é, é porque são dois dias e três noites. Queria ser capaz de alterar o que pensas, mas eu não passo de monotonia e fragilidade. A minha vida são muitos dias que se desenrolam e adensam o meu drama. Há momentos em que quero que os meus músculos cardíacos parem de bater. Para só o silêncio ressoar no meu céu interior, como síntese de todos os momentos, que batem uníssono, fruto amadurecido ao calor de cada instante. Perco a noção do silêncio. A minha vida é confusão de gritos onde me perco, em diálogos de surdos. O silêncio é a arte de dizer grandes coisas. A ciência da vida está em fazer silêncio, fechar os olhos e os ouvidos para ouvir. Mas o silêncio não é fuga ao diálogo. Se me calo, é para poder escutar os outros, para amar mais e melhor. No diálogo interpessoal, o mais importante e difícil é escutar. A palavra diz pouco, quanto mais explica mais complica. O silêncio diz mais. Gestos, atitudes, comportamentos são mensageiros de tudo o que sou e possuo, levam aquilo que sou e possuo. Levam aquilo que sou e não só o que digo. Mas ninguém me escuta, ninguém me entende e o silêncio que me habita com luz transforma-se em noites e trevas. Noites de esperança, noites de razão e de sentidos, que no escuro sufoca-me em agonias, sedes e abandonos. Morro para as minhas razões e evidências obscuras. Desculpa se não obedeço, se não respondo ao teu manuscrito, mesmo que tu digas que és pó que o vento leva, eu também quero ser levada, não quero ficar só. Estou sofrendo de solidão e ninguém sente. Há em mim um conflito insanável entre a luz e as trevas. As forças do mal e a luz que se esforça por apagar o rosto fulgurante, que a denuncia e condena. As trevas obscurecem os pensamentos e desejos. Mergulho em desolação e noite escura. Vai-se o gosto de amor, a alegria de viver, agora tudo é lento e turvo, no meu caminho interior. Quebrou-se a paz existente, a certeza das minhas decisões radicais para ficar sozinha no meio das minhas dúvidas, perdida em interrogações. Nada me atrai, nada merece a pena. Invade-me a alma a noite, da razão e dos sentidos, e sinto-me ausente, naufrago dos meus lamentos e gemidos. O monstro que me tenta sufocar, está a conseguir. O ar que ainda respirar, aproveito para o transformar em palavras que te dedico. A vida é mar incerto, agitado pela inconstância dos ventos e marés. Tem horas de tudo e de nada, marés-cheias e marés baixas. Para além de qualquer cabo, entre neblinas, ocultam-se e chamam por ti as descobertas. Há baixios na rota, barcos encalhados, mas não temas. A maré não tarda…também não concluo citando. Apenas te digo, lanço-te uma jangada para não te afundares, mas promete-me que a mim me lanças ao menos uma palha, para fazer inveja ás pedras que vão ao fundo. Não há que ter pena delas porque elas não se afogam, mas eu já me sinto a entrar em reinos de Neptuno e de Ares.
Por Eumesma

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