terça-feira, 2 de outubro de 2007

EXTRATO DE UMA TRAIÇÃO


- Eu sei que estou a ver bem. Sentia lá no fundo que eras um canalha. Não valias nada, mas pelo menos acreditava que não eras um porco ao enfiares essa galdéria, igualmente imunda, que se dizia minha amiga, na minha cama. Fazes bem em te manter em silêncio, só prejudicarias ainda mais a tua imagem, além de que estarias a insultar o meu discernimento. Metes-me nojo.
Madalena virou costas aos amantes e dirigia-se para a saída. Há muito que desconfiava que o marido a traia, mas a paixão que ele tinha despertado nela durante o namoro e o amor que foi aumentando nela nos primeiros anos do seu casamento, fizeram com que ela ficasse cega, ou seria ele que a cegava. Nos últimos tempos os sinais eram tantos e tão gritantes que poucas dúvidas lhe restavam. Mas a vontade de negar todas as suas suposições era mais forte. Apanha-lo em flagrante não estava a ser fácil de assimilar. Apesar de toda aquela realidade lhe entrar como uma lâmina coração adentro, ela não podia ser fraca. Já muito tinha permitido aquele homem. Ela acabava de ter a confirmação que os últimos quatro anos da sua vida podiam ter sido um verdadeiro e profundo logro. Ela não parava de dizer de si para si. “Madalena, sê forte, mantêm-te fria, não deixes o teu sangue responder por ti. Madalena aguenta essa vontade de voltares atrás, saltar a pés juntos para cima daquela cama e pontapeares aquele pulha e aquela rameira fingida”. Ao mesmo tempo que tentava controlar aqueles ímpetos de violência, que sabia possuir, mas não ao ponto de se mostrarem tão brutais, sentiu que o corpo, um corpo pesado fazia ranger as molas do seu colchão. Era ele que deslizava para o chão e que em largos passos alcançou o braço dela.
Ela reconhecia agora naquilo que ele era tão bom. Ao voltar-se cheia de vontade de lhe desferir uma bofetada, e só não conseguiu porque ele lhe aparou a mão, que ainda tinha solta. Ficaram os dois imóveis, tendo ele procurado e fixado os olhos dele nos dela. Activou aquele brilho no olhar para os tornar sedutores, mas não estava a resultar. Os olhos dela estavam a ejectar-se em sangue, ainda por cima, porque ele lhe mantinha ambos os pulsos apertados acima das suas cabeças. Para aumentar ainda mais os seus sentimentos de ira, ele parecia começar a dominar a situação, mesmo estando completamente nu, diante dela. Ela não ficou indiferente a esse aspecto. No seu inconsciente, o corpo dele continuava a conseguir tocar-lhe por dentro, mas ela recuperou rapidamente a racionalidade e não deixou que um simples impulso de excitação carnal a dominasse. Finalmente ela tinha acordado para o que aquele homem era capaz de arquitectar.
- Larga-me… disse ela entre dentes, mas num tom de voz baixo. Ele aproveitou esta deixa e disparou.
- Madalena, tu também não prestas. És mimada e fria. Só pensas em ti e no teu umbigo. Já consegui tudo o que queria de ti, há muito que já não me serves para nada. Apesar das tuas birras com a tua família, eles foram mais inteligentes do que tu e souberam engordar a minha conta bancária para que eu não te fizesse infeliz. Não vales nada para mim. Sim, vistes bem, deitei-me com todas as tuas amigas. Ao contrário de ti sabem o que um homem como eu realmente quer. São quentes ao contrário de ti, que nunca serás morna. É pena que estejas a abrir os olhos e que já não consiga continuar com a minha farsa. Por isso não te preocupes, não vou atrás de ti. Mas és capaz de não te livrares assim tão facilmente dos meus advogados.
O sangue dentro das veias de Madalena estava a ferver. Voltavam-lhe novamente os desejos de espancá-lo, mas após o que ele lhe tinha dito, tudo o que ela pudesse fazer ia ser apenas motivo de chacota por parte dele, ia ser como um prémio à sua representação daquela grande mentira, elaborada pela sua mente oportunista e cruel.
- És um porco… e ao mesmo tempo cuspiu-lhe no rosto. Como tinha desejado que a sua saliva lhe tivesse queimado aquele sorriso. Ao sair lembrou-se de uma forma de se vingar, naquilo que agora percebia ser o que a ele mais afectava. Privá-lo dos bens que tinha adquirido ao que parecia com chantagens ao seu pai. Da taça que tinha junto á porta da rua, retirou as chaves do carro desportivo que o marido cuidava religiosamente.
Por Eumesma

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