Poucas loucuras de amor merecem
tanta atenção dos literatos como o narcisismo: levado ás suas ultimas
consequências, pode converter-se numa perturbação psicológica muito parecida
com a histeria. O jovem narciso, impossibilitado de satisfazer as suas paixões
amorosas com outros, acaba por apenas ser capaz de amar a sua imagem reflectida
na água do lago. É precisamente isso que acontece a quem sofre de narcisismo
doentio ou mórbido. Estas pessoas tornam-se a si mesmas como objecto amoroso. A
origem do seu desvio pode encontrar-se no facto de serem pobres em afectos.
Mostram-se geralmente distantes e são incapazes de mostrar admiração por uma
acção, uma escolha ou uma qualidade alheia. Geralmente, carecem da capacidade
de empatia (quer dizer, da habilidade para detectar e tentar compreender o
estado de espírito do outro), o que as torna seres socialmente desastrados. As
suas relações românticas costumam ser fugazes, em parte porque se lhes revela
muito difícil encontrar uma pessoa com as qualidades que exigem: nem tão
brilhante que lhes possa fazer sombra, nem tão cinzenta que careça de interesse.
Conviver com um narcisista mórbido pode ser um enorme suplício, é preciso
competir constantemente com a imagem amplificada e quase endeusada que o
espelho devolve do próprio doente. Por outro lado, os parceiros devem
reconhecer permanentemente as virtudes da vítima (que a ela parecerão
evidentes, mas talvez não ao resto dos mortais), ainda que também não lhes deva
dar demasiada ênfase, porque o doente considera que a sua graça é natural e não
requer demasiada atenção, é todo um paradoxo da mente humana que pode arruinar
vidas, mas dificilmente as vítimas o reconhecem.
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