segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

ANTES DE ADORMECER


Sinto uma confusão tão profunda dentro da minha cabeça que imobiliza todo o meu corpo. Nesta paralisia, imputada pelo vórtice dos meus pensamentos, os minutos vão passando. A noite que parece longa e interminável vai cavalgando. O tempo, saltando hora após hora. Um novo dia vai chegar. Tento eu pensar porque estou parada. Se tenho os meus pensamentos no passado, se vegeto no presente, se tento vislumbrar o futuro. Sou um mísero ser humano. Nada mais para além de qualquer outro que respira oxigénio. Por vezes, a nossa unicidade é tão orgulhosa que nos chama à atenção para a nossa aparente perfeição. Somos quase de certeza o único ser que se interroga e isso nos eleva à prepotência de Ser maior. Quando em nada nos retira fragilidade. Olho para os meus pulsos e consigo divisar todas as veias que o percorrem. São o ténue invólucro que encaminham a fonte de energia, que faz mover a minha mão. Suportar o peso da caneta que sustento e atribui à tinta a exactidão do que quero dar às minhas palavras. O outro pulso está sob a minha cabeça. Sinto bem junto ao meu ouvido as batidas compassadas do meu coração. Não parou. Ainda se move. Consigo eu me mover. Serão de facto, os meus movimentos sinal de progressão. Quantos de nós julgam que caminham ao longo de uma estrada. Vão em frente para a vida. E se, se pudesse elevar, talvez vissem um profundo trilho circular, desenhado e vivido num campo pedregoso. Quanta vez podemos não sentir força suficiente para retirar aquela pedra que está diante de nós ou ligeiramente à margem do nosso caminho, para assim, conseguir-mos obter uma tangente à nossa vida. Conseguir sair da orbita de uma rotina imposta ou viciosamente desejada. Penso inúmeras vezes se a apatia não será dona de um doce demasiado sonífero. Maniatei-nos os membros com laços de preguiça. Total falta de ânimo e de resolução são os sentimentos que dão fibras a essas cordas, que se vão apertando cada vez mais aos membros, numa cadência lenta e quase imperceptível. Actua e nos toma pela inoperância. A cabeça abdica do seu poder de liderança. Apenas garante a sobrevivência desse corpo esquecido que lhe pesa demais. A cabeça ganha fadiga perseguindo fantasmas. Vultos esquivos que parecem brincarem à luz ténue do candeeiro. O débil feixe de luz ilumina um rosto semi adormecido que de forma mole procura o seu próprio calor num afago ao travesseiro.
Por Eumesma

1 comentário:

Anónimo disse...

Abananado.... de boca aberta.... como em tão poucas palavras consegues dizer tanto...gostei verdeiramente e de certo modo identifiquei alguns dos sentimentos....sim senhora continua.