segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

UM CAFÉ


Estava eu rotineiramente no café a calar a fome do corpo e a acalmar a do espírito lendo um dos jornais do nosso país, não interessando qual. Porque novidades não se devem procurar nos jornais. Nesta imprensa a novidade acaba por ser cíclica e mais tarde ou mais cedo as noticias parecem repetir-se e o mundo gira enfastiado. Continuava eu lendo títulos e subtítulos, folheando já as últimas páginas e bebendo os últimos golos do meu sumo natural, quando no café vazio e arrefecido pelo ar condicionado, em que apenas as moscas e os empregados davam voltas. As primeiras para povoarem a sujidade e os segundos para a desalojarem. Entra um senhor muito informal mas com um pisar seguro. Dirigiu-se ao balcão e obviamente pediu um café curto. Devido ao seu aspecto banal, abandonei a minha observação, continuando a ler as previsões astrológicas, não tanto por crença mas por curiosidade kármica. Voltei a levantar o rosto para a rua e talvez por estar um calor tão infernal que nem a belzebu lembra, esta se mantinha quase deserta. No entanto, a tarde ia-se desvanecendo, tal como o meu estado de espírito. Uma forte melancolia tinha-se abatido sobre mim há vários dias e o meu isolamento ambiental a que me via submetida aumentava o meu sentimento de enfado e solidão. Portanto, nesse dia dei a melhor recompensa que se pode dar à dor da solidão. Pactuar com ela e baixar o meu olhar. Deixar cair o meu cabelo sobre as faces e terminar a minha leitura oca. Lentamente as sombras mortas do café moveram-se ganhando vida. Uma grande sombra aproximou-se da parte de trás da minha nuca.

2 comentários:

gomejose disse...

Por falar em cafés, apetece-me falar das voltas que o mundo dá, o que hoje é considerado um acto de inclusão amanhã pode ser considerado um acto de exclusão. Estou obviamente a referir-me á proibição de se fumar em cafés, uma das noticias que tanto tem preenchido as paginas dos jornais de algum tempo a este parte. É engraçado ver quem antes fumava livremente num recinto fechado, sem qualquer preocupação com o bem estar de terceiros,ter que se deslocar ao exterior dos edificios só para satisfazer o vicio. Sim o vicio, porque o fumar apenas pelo acto social deixou de fazer sentido.
Outra curiosidade é entrar no café e sentir o cheiro do café ou dos bolos se for uma pastelaria, ou até dos fritos se for um tasco. Mas a curiosidade maior é que estes espaços ao libertarem-se da neblusidade e do ar carregado parece que se tornaram também espaços mais silenciosos e mais leves embora continuem na mesma cheios, pelo menos os sitios que frequentei até agora....

Anónimo disse...

Depois de ler o texto...não sei porque mas vem-me à memoria aquela frase: o que tu queres sei eu...!!!!!!!!