Imcompreendida!
É assim que se sente a alma possuidora de um corpo com a garganta esmagada. Nela não entra nem sai ar, palpita de sangue, fervilha de sentimentos, borbulha de emoções. Há toda uma tumefacção de reacções que gritam unissono no desejo de criar palavras e toda uma fracção de reacções opostas que abafam para que haja silêncio. Os tremores habitam-te e percorrem-te sussurando junto das partes do teu cerebro que ainda não foram tomadas pela névoa do caos, que és fraca, que tens de desistir de ti. Eles não te vão permitir que digas uma só palavra, que artricules uma só frase inteligivel e que exista o risco de alertares a tua presença. Os tremores vão continuar, e mesmo quando os julgares vencidos estes permanecem ocultos entre as defesas das tuas trincheiras. Baralharão os teus guardas e estarás sempre cativa de um inimigo criado em ti mesma. Treme e volta a tremer, esperneia e sacode o que não compreendes. Apoia-te nas poucas certezas que tens, se o teu perigoso espiríto pragmático assim conseguiu dar-te como verdadeiras. Pois, verdade ou mentira o que pode ser? Um todo numa só parte? Parte de um todo? Ou um todo que se parte? Chora, continua a chorar nessa tua batalha dos "porquês". Haverá muita dor, mas se por entre a água e o sal do teu choro, sentires a planta dos teus pés. Se todo o teu sangue descer até eles como um formigueiro endemoniado por um torrão de açucar, estarás a sentir o solo debaixo de ti. E num jogo de permissas muito simples, dirás, pés, chão, chão, ausência de abismo. Podes estar a um passo, mas será ainda a medida de uma unidade que faz a separação do tudo e do nada. O teu mundo de sensibilidade está escondido de todos pelo medo que te gela. Onde e quando se transformou no teu escudo! Perdes-te na memória o espaço que guardava esse tempo e essa hora. Ou então ele cresceu de tão mansinho, com a espessura das suas raízes a se cravarem em ti de modo tão imperseptivel que agora és uma rede de nós de sensibilidade, ligados por um fio de receios e fechado por um escudo de desconfiança. Tudo se aprisionou em silhuetas de sonhos e de figuras que não podem ser descritas na língua dos homens, nem serem ilustradas em papel pelos seus punhos. Só te resta uma saída, iniciar a jornada dos sinónimos do que te molda. Encontrar viajantes em sentido contrário e nas encruzilhadas da vida que tens para diante, porque o que fica se fecha. Oras, anseias e suplicas para não encerrares tamanho castigo. Tudo ofereces e nada pedes, apenas queres deixar de sentir o peso da solidão. As etapas da tua jornada vão ser compostas pela procura do preço a pagar pela desejada compreensão.
A tarde tem também estado toda ela imcompreensivel. No céu há uma parada de cúmulos-nimbus que desfilam e se elevam cada vez mais. Vão inchando de vapor e de luz. Avolumando-se numa ameaça de tempestade, que por enquanto se camufla por de trás de um aspecto inocente como se de algodão se tratasse. O sol que brinca com elas, de tão distraido que está ora é cruel pelo excesso de calor, ora despreza a terra e a enregela. Oh, que tédio mortificador, não mais ter, do que os elementos para causar distração e despreza-los tanto, quando se oferecem em companhia tão próxima. A noção de uma existência tão frágil, pode ser tão facilmente esmagada por estes elementos, que se torna dificil defini-los como amigos, ou inimigos, quando companhia é um termo tão vago. Hoje estou cativa numa espécie de torre, cativa de designios que não posso dispensar, mas logo que chegue a hora em que estarei liberta deles terei eu alternativas de escape a esta prisão temporária que me é imposta!
Para onde quer ir este estúpido corpo desprovido de asas, que tanto anseia a sua metamorfose leptidoptera mas que continua a rastejar como a mais vulgar das larvas, que já alguma vez mais será borboleta. Observo novamente as horas no meu relógio. E quando constato que faltam menos de dois minutos para partir, só desejo ficar, porque enquanto estive, não tinha que pensar para além do que tinha em meu redor. Agora que me obrigam a partir, apato-me do que rejeitava, mas que não tinha coragem de largar. Sou mais cobarde que uma criança assustada em redor de sua mãe. Agarrada a algo invisível, que não me protege nem me guarda, mas constitui uma esperança sem rosto que me diz que estou aqui, ou não estarei?
- Ana! Ouvistes o que te disse? Que rosto contraido, em que pensas tu?
- Hummm... que disses-te?
- Em que pensas tu? Ao que parece estive mesmo a falar para o vazio.
- Desculpa, não, não estives-te, mas confesso que estava distraida.
- E posso saber em que pensavas?
- Algo confuso, julgo eu, é dificil de explicar, mas também não era nada em concreto, logo, parece-me que não seja importante. Esquece. Que dizias?
É assim que se sente a alma possuidora de um corpo com a garganta esmagada. Nela não entra nem sai ar, palpita de sangue, fervilha de sentimentos, borbulha de emoções. Há toda uma tumefacção de reacções que gritam unissono no desejo de criar palavras e toda uma fracção de reacções opostas que abafam para que haja silêncio. Os tremores habitam-te e percorrem-te sussurando junto das partes do teu cerebro que ainda não foram tomadas pela névoa do caos, que és fraca, que tens de desistir de ti. Eles não te vão permitir que digas uma só palavra, que artricules uma só frase inteligivel e que exista o risco de alertares a tua presença. Os tremores vão continuar, e mesmo quando os julgares vencidos estes permanecem ocultos entre as defesas das tuas trincheiras. Baralharão os teus guardas e estarás sempre cativa de um inimigo criado em ti mesma. Treme e volta a tremer, esperneia e sacode o que não compreendes. Apoia-te nas poucas certezas que tens, se o teu perigoso espiríto pragmático assim conseguiu dar-te como verdadeiras. Pois, verdade ou mentira o que pode ser? Um todo numa só parte? Parte de um todo? Ou um todo que se parte? Chora, continua a chorar nessa tua batalha dos "porquês". Haverá muita dor, mas se por entre a água e o sal do teu choro, sentires a planta dos teus pés. Se todo o teu sangue descer até eles como um formigueiro endemoniado por um torrão de açucar, estarás a sentir o solo debaixo de ti. E num jogo de permissas muito simples, dirás, pés, chão, chão, ausência de abismo. Podes estar a um passo, mas será ainda a medida de uma unidade que faz a separação do tudo e do nada. O teu mundo de sensibilidade está escondido de todos pelo medo que te gela. Onde e quando se transformou no teu escudo! Perdes-te na memória o espaço que guardava esse tempo e essa hora. Ou então ele cresceu de tão mansinho, com a espessura das suas raízes a se cravarem em ti de modo tão imperseptivel que agora és uma rede de nós de sensibilidade, ligados por um fio de receios e fechado por um escudo de desconfiança. Tudo se aprisionou em silhuetas de sonhos e de figuras que não podem ser descritas na língua dos homens, nem serem ilustradas em papel pelos seus punhos. Só te resta uma saída, iniciar a jornada dos sinónimos do que te molda. Encontrar viajantes em sentido contrário e nas encruzilhadas da vida que tens para diante, porque o que fica se fecha. Oras, anseias e suplicas para não encerrares tamanho castigo. Tudo ofereces e nada pedes, apenas queres deixar de sentir o peso da solidão. As etapas da tua jornada vão ser compostas pela procura do preço a pagar pela desejada compreensão.
A tarde tem também estado toda ela imcompreensivel. No céu há uma parada de cúmulos-nimbus que desfilam e se elevam cada vez mais. Vão inchando de vapor e de luz. Avolumando-se numa ameaça de tempestade, que por enquanto se camufla por de trás de um aspecto inocente como se de algodão se tratasse. O sol que brinca com elas, de tão distraido que está ora é cruel pelo excesso de calor, ora despreza a terra e a enregela. Oh, que tédio mortificador, não mais ter, do que os elementos para causar distração e despreza-los tanto, quando se oferecem em companhia tão próxima. A noção de uma existência tão frágil, pode ser tão facilmente esmagada por estes elementos, que se torna dificil defini-los como amigos, ou inimigos, quando companhia é um termo tão vago. Hoje estou cativa numa espécie de torre, cativa de designios que não posso dispensar, mas logo que chegue a hora em que estarei liberta deles terei eu alternativas de escape a esta prisão temporária que me é imposta!
Para onde quer ir este estúpido corpo desprovido de asas, que tanto anseia a sua metamorfose leptidoptera mas que continua a rastejar como a mais vulgar das larvas, que já alguma vez mais será borboleta. Observo novamente as horas no meu relógio. E quando constato que faltam menos de dois minutos para partir, só desejo ficar, porque enquanto estive, não tinha que pensar para além do que tinha em meu redor. Agora que me obrigam a partir, apato-me do que rejeitava, mas que não tinha coragem de largar. Sou mais cobarde que uma criança assustada em redor de sua mãe. Agarrada a algo invisível, que não me protege nem me guarda, mas constitui uma esperança sem rosto que me diz que estou aqui, ou não estarei?
- Ana! Ouvistes o que te disse? Que rosto contraido, em que pensas tu?
- Hummm... que disses-te?
- Em que pensas tu? Ao que parece estive mesmo a falar para o vazio.
- Desculpa, não, não estives-te, mas confesso que estava distraida.
- E posso saber em que pensavas?
- Algo confuso, julgo eu, é dificil de explicar, mas também não era nada em concreto, logo, parece-me que não seja importante. Esquece. Que dizias?
POR EUMESMA
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